Este foi, sem dúvida, o melhor dia que tive em toda a viagem. O dia que mais aprendi, que mais senti, que mais vivenciei. A princípio achei que seria um dia tão produtivo e interessante como os outros anteriores, mas certamente minhas expectativas foram superadas de forma muito positiva. Fomos novamente até a Rocinha, vendo mais uma vez que o Rio de Janeiro é a cidade dos contrastes, saindo de bairros luxuosos e entrando diretamente na favela. Fomos até a sala de reunião do CAPS e conversamos sobre os trabalhos da Clínica da Família (anexada junto ao CAPS), sobre a importância da multidisciplinaridade, sobre os salários dos profissionais, entre outros pontos. Foi nos proposto então, que parte do grupo visitasse determinada área da Rocinha junto com o Agente de Saúde, que buscava novos cadastros. Como meu grupo ainda não havia feito visitas domiciliares, fomos escolhidos para seguir junto com o agente. O que vi lá, não pode ser expresso em palavras. Entramos em becos totalmente íngrimes, no qual subí-los era um verdadeiro esforço. O agente nos informou que todas as casas (com exceção das construidas pelo PAC, localizadas em uma área da Rua 4) foram construidas pelos próprios moradores. Será que estes mesmos moradores estão aptos a construírem casas em tamanho declive de maneira com que os habitantes da residência e também os moradores que habitam suas redondezas se mantenham de forma segura? O que vimos foi um grande aglomerado de casas, muitas em estado precário, ocupando becos sujos, escuros e úmidos. Há muito lixo acumulado e consequentemente, um mau cheiro muito forte. Há esgoto correndo a céu aberto ao lado de casas onde moram famílias que precisam conviver todos os dias com um esgoto propício a inundações e com grande quantidade de dejetos e outros materiais. Vi crianças correndo com os pés descalços dividindo o mesmo chão com ratos e baratas. Presenciei também pessoas armadas, algo muito natural neste outro "universo". Foi, de fato, uma experiência única em minha vida. Gostaria muito de voltar a Rocinha pois achei a visita de uma riqueza imensurável. O que vi também foi muito provocador, pois me colocou a pensar em diversas questões que estão ainda muito precárias no planejamento da saúde. De que adianta a implantação de UPAS, CAPS, Saúde da Família de uma estrutura exemplar se a fonte de diversas doenças continua em situação lastimável, principalmente no que diz respeito a falta de saneamento? Estamos falando da maior favela da América Latina com milhares de habitantes. Como pode um local desta grandeza viver em situações tão preocupantes? Não importa quantas clínicas sejam colocadas na comunidade, enquanto os moradores não puderem contar com condições de vida aceitáveis e HUMANAS, não haverá um bom quadro de saúde dentro do local. A missão é certamente de uma complexidade muito elevada, mas ainda assim, medidas precisam ser tomadas, caso contrário, não haverá saúde no local independente dequantas clínicas, UPAS ou CAPS estejam auxiliando a população.
A educação da população é outro pilar que mantém a saúde. Como vi em Manguinhos, o conjunto habitacional que estava sendo habitado e inaugurado há somente um ano já estava depredado e sujo em alguns pontos. Enquanto a população não tiver suporte para manter uma boa estrutura, os lugares estarão propícios a imprudência, trazendo junto dela, uma série de graves consequencias que afetam a saúde de toda a população. A saúde se mostra um campo realmente complexo e totalmente multidisciplinar, mas ainda assim não é impossível melhorarmos as condições de vida não só da população da Rocinha e de Manguinhos, mas sim generalizando a todos, com ESTRUTURAS para uma habitação digna, suporte (como já podemos contar com as unidades presentes no local) e EDUCAÇÃO.
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